Média diária de condutores detidos pela PM subiu de 10 para 15 depois que outras provas, como o testemunho, passaram a valer.
O número de prisões por embriaguez no Estado de São Paulo aumentou no primeiro mês de vigência da lei seca mais severa. Ao longo de 2012, a média foi de dez detenções por dia. Entre 21 de dezembro e 21 de janeiro, a taxa saltou para 15. Regulamentada na semana passada, a lei mais rigorosa prevê que testemunhos atestem a embriaguez caso o motorista não queira soprar o bafômetro. Para dar mais força a seus depoimentos, policiais estão usando até câmeras de vídeo.
A partir de 21 de dezembro, um dia após a presidente Dilma Rousseff (PT) sancionar as mudanças na lei seca, a Polícia Militar de SP fez 464 prisões em flagrante por "alcoolemia ao volante" em 30 dias. Em todo o ano passado - descontados os últimos dez dias de dezembro - foram feitas 3.606 prisões em flagrante, segundo a PM, o que dá a média de dez casos por dia.
Essa variação pode ser explicada pelo fato de que ficou mais flexível para os policiais identificar motoristas alcoolizados com o exame de sinais de embriaguez. Não é mais preciso submeter a pessoa ao teste do bafômetro ou ao exame de sangue, como era antes. Agora, sinais como vermelhidão dos olhos, dificuldade para falar e andar e cheiro do vômito podem provar que o condutor está embriagado.
É o que diz o capitão Sérgio Marques, porta-voz da Comando de Policiamento de Trânsito de SP e especialista em sua legislação. "Continua valendo a premissa constitucional de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Porém, o corpo produz provas, o corpo fala. Odor de álcool, atitude arrogante e desordem nas vestes, entre outros itens, podem configurar não só a multa, como o crime."
Isso prova o flagrante previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que estabelece como infração criminal conduzir veículo "sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos", com penas que variam de seis meses a três anos de detenção, além de multa ou proibição de dirigir. Contudo, a pena é afiançável e, portanto, raramente alguém fica preso.
Uma gravação foi usada na noite de sexta-feira para levar à prisão um motorista da Praia Grande, no litoral sul. "Os policiais notaram que o homem estava embriagado, mas ele não quis soprar o bafômetro. Então, além de relatar os sinais de embriaguez, os policiais filmaram o motorista com andar cambaleante e encaminharam o vídeo para a delegacia", afirma o tenente Moacir Mathias do Nascimento, porta-voz da Polícia Rodoviária Estadual. Até a noite de sábado, a fiança, estipulada em R$ 3 mil, não havia sido paga.
Endurecimento. Na terça-feira passada, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) publicou uma resolução para regulamentar a lei seca mais rigorosa. Essa determinação não permite nenhuma quantidade de álcool no sangue do motorista.
O consultor de tráfego Horácio Augusto Figueira apoia a medida da PM de usar câmeras para filmar motoristas embriagados. O material pode servir como mais uma evidência para indiciar condutores que dirigem depois de consumir álcool. "Acho que essa alteração na lei seca e a forma de a blitz ser feita já vai dar um certo chacoalhão no comportamento de boa parte da sociedade. As pessoas já começam a perceber que agora é para valer."
Entretanto, em sua avaliação, os bloqueios policiais só serão plenamente efetivos se ocorrerem 24 horas por dia e em vias escolhidas aleatoriamente. "Não precisa ser só em ruas de grande movimento. Isso é besteira. É preciso fazer blitze em ruas locais de bairro por onde os motoristas fogem."
Ele sugere que as autoridades passem a montar um pequeno bloqueio falso em avenidas movimentadas só para que motoristas embriagados as vejam e "escapem" por alternativas manjadas, onde os policiais estariam fazendo a blitz verdadeira.
Câmera e 2 tipos de bafômetro
Dois tipos diferentes de bafômetro, filmadoras digitais, máquinas fotográficas e computadores para verificar documentos. Com esse aparato tecnológico, policiais rodoviários se preparavam para montar uma blitz da lei seca no km 32 da Rodovia dos Imigrantes, em São Bernardo do Campo, no ABC, por volta das 11h de sábado.
As filmadoras não precisaram ser utilizadas, já que nenhum motorista se recusou a soprar o bafômetro. Nenhuma das pessoas paradas no bloqueio estava sob efeito de bebida alcoólica. Durante as abordagens, a única infração encontrada pelos policiais foi uma pessoa que estava com a carteira de habilitação vencida.
Parte dos motoristas aprova a rigidez maior da Lei Seca. "Acho certíssimo o que estão fazendo. Quem sai na rua ou pega uma estrada bêbado está colocando a vida de um monte de gente em risco. Iria até mais longe. Acho que essa pessoa não poderia dirigir mais", afirma o antiquário Ronaldo Lorando, de 42 anos, um dos parados na blitz.
O microempresário Paulo Roberto de Andrade, de 58 anos, disse que a presença dos policiais na estrada passa uma sensação de segurança. "Espero que, com toda a divulgação sobre a lei e as blitze que a polícia está fazendo, o pessoal fique com medo de dirigir depois de beber. Não me preocupo em ser parado."
Após parar o carro ou a moto, os policiais explicam o motivo do bloqueio e solicitam que o motorista continue falando, bem próximo ao chamado bafômetro passivo, equipamento que revela se existe álcool no ar expelido. Em alguns casos, o policial pede para o motorista soprar também o bafômetro convencional, que dá, como resultado, a dosagem de álcool no ar expelido.
"Quando o policial para um veículo, também faz a fiscalização de documentos e fiscalização do carro", explica o tenente Moacir Mathias do Nascimento, porta-voz da Polícia Rodoviária. "Na blitz de hoje (sábado), não foi necessário autuar ninguém. Mas poderíamos usar as câmeras e até o depoimento de outros motoristas caso alguém apresentasse sinais de embriaguez."
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