sábado, 23 de fevereiro de 2013

Filhos do Sol, Filhos da Lua



Transcrevo abaixo um texto do amigo CB PM Márcio Barcelos que assina a coluna Segurança nas Montanhas do site www.montanhacapixabas.com.br

Vale pena a leitura e a reflexão.

Filhos do Sol, Filhos da Lua

Venho hoje falar através de uma alegoria, uma parábola, usada por Jesus e tantos outros, para falar o que desejavam transmitir àqueles que necessitavam ouvir. Talvez usasse esta fórmula devido ao esgotamento das tentativas de falar diretamente o que todo o mundo estava vendo, mas não falavam, talvez porque não adiantaria. Complicado, não?

Já notaram que quando algo dá errado, os que governam ou governaram,vem logo a público com explicações tão mirabolantes, linguajar complexo, que fingimos entender e aceitar, para não prolongar mais nosso sofrimento e indignação, diante de tanto “blá-blá-blá”?

Hoje a segurança pública (cabe também aos outros setores) vive essa realidade. Dentro do setor da segurança pública, existem aqueles que chamamos de “guerreiros” que querem, desejam e anseiam por lutar para que a sociedade tenha uma vida segura, longe da violência e das drogas. Eles se doam no trabalho (e muitas vezes fora dele) simplesmente por um sentimento de honra, lealdade e abnegação. Estão nesta profissão por amor à justiça.

Eu os chamo de “Filhos do Sol”! Porque essa luz, essa necessidade, é vista por todos, quando eles passam em suas viaturas ou veículos comuns, em alta velocidade, indo em direção ao perigo, às tragédias, aos lugares que ninguém quer ir, nas madrugadas patrulhando, por causa deste sentimento, que não tem remuneração que pague. Por mais que não gostem deles, por inúmeros motivos, uma coisa ninguém pode negar: Eles têm “luz própria”.
Até quando eles erram (e isto acontece), todos notam em seu semblante abalado e abatido de tristeza essa diferença de que errou, e talvez por isso a sociedade os perdoe mais rápido, pois eles pelo menos tentaram, diferentemente daqueles que se omitiram na hora ou agem de forma covarde, ou se vendem para o mal.

Aí entra no jogo os “Filhos da Lua”, que são, na maioria das vezes (não todos é claro), intitulados chefes ou patrões, pois não acontece apenas na segurança pública mas também em empresas privadas, escolas, comércios, igrejas, etc… Eles estão ali para dar mais fluidez ao trabalho. Atender bem ao cliente. Seriam os “responsáveis”.

Estes ficam atrás de suas lindas e majestosas salas, trabalhando sem precisar dar satisfação a mais ninguém sobre onde estão ou porque não estão. Recebendo muito além daqueles que põem a mão na massa, perdendo noites ou se arriscando. Mas não é isso que acontece na maioria das vezes, pois ali está alguém incomodado há muito tempo com aquela “luz”, que atrapalha, perturba, fala o que pensa, e isso não é aceitável para nenhum “patrão”, mesmo que ele seja um ótimo profissional e tenha vários talentos para serem aproveitados.

Eles não têm “luz própria” e nem aceitam ideias de subordinados ou funcionários mais baixos, mesmo que sejam ótimas! Eles deveriam estar agradecidos de terem funcionários com este brilho, mas ao contrário disso, condena-os, persegue-os, maltrata-os.

Hoje, na segurança pública ou não, e no Brasil todo, é praticado pelas chefias a política do “faça o que eu estou mandando e esquece o que você sabe”. Aí está o problema, pois se nós vamos para academia, estudamos, aprendemos, fazemos cursos de especializações, entramos em faculdades, recebemos vários elogios, é gerado um conflito interno que não pode ser externado, pois é insubordinação ou desacato, indo para ficha e dando cadeia.

E isso reflete na qualidade do atendimento que é prestado para a sociedade, que não conhece os bastidores da segurança pública em geral ou da empresa. Mas o que as chefias do Brasil esquecem é que quem está na linha de frente são as classes mais baixas, lidando direto com a situação de perigo e se expondo, ouvindo o desabafo do povo indignado (e com razão) e que eles não são os nossos patrões, são funcionários com cargos mais elevados, mas que estão ali com uma única finalidade: oferecer o melhor serviço possível a população.

Vamos pegar como o exemplo o nosso querido Espírito Santo. Há mais ou menos 10 anos atrás, o salário do servidor policial militar estava vinculado ao salário mínimo e quando eu entrei na PM, cheguei a ganhar 10 mínimos. Aí veio o Sr. José Inácio (governador) e desvinculou nosso salário do mínimo (alegando não ter condições de pagá-los). Mas mesmo assim, não pagou e criou o massacrante e dolorido “rotativo”, em que nós pagamos o nosso salário, com juros do Banestes (pagamos para trabalhar e não fomos ressarcidos como prometido, até o hoje e nem se fala disso).

Hoje a minha mesma patente recebe quatro mínimos com desconto de impostos ainda e não houve nenhum aumento real acima das inflações, mesmo subindo tudo nestes 10 anos. Tenha curiosidade e entre no site http://www.transparencia.es.gov.br, clique PESSOAL, TABELA DE CARGOS E FUNÇÕES em Administração Direta, escolha POLICIA MILITAR E BOMBEIROS, clique na tabela e veja os salários (TABELA DE SUBSÍDIOS) que são pagos ultimamente a cada funcionário público (inclusive eu), com suas respectivas funções, e compare com aquilo que foi dito anteriormente (lembrando ainda que alguns cargos mais altos recebem gratificações e todos nós temos escalas extras que não estão ali).

No momento em que a segurança pública for tratada com respeito, humanidade e igualdade, dentro e fora das entidades, em todo o Brasil, com certeza se refletirá em melhores resultados no combate à criminalidade. Para a sociedade, não importa a patente, o cargo, ou a denominação que resolverá o seu problema. Apenas que resolva sem demora! Temos é que colocar o egocentrismo de lado e trabalhar em prol de um bem maior, como o Sol e a Lua fazem.

Os dois são astros de maior grandeza e reinam cada um em seu território (dia ou noite). São iguais naquilo que representam. E mais, quando estão alinhados, é que demonstram toda a sua verdadeira força, sendo as suas influências sentidas em todo mundo com as marés mais fortes se manifestando, gerando vida e equilíbrio na terra.

Não importa então para a população ou para nós se somos “Filhos do Sol” ou “Filhos da Lua”, pois nós sabemos do nosso potencial. Importa é que estejamos alinhados para cumprir o dever de dar segurança à população brasileira. Senão, no final, só quem sempre perde é a mesma sociedade que juramos proteger.

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